História da Indústria do Polvilho

1. Importância
A indústria polvilheira surgiu na primeira metade do século 20 e liderou, durante décadas, o comércio de vendas do município. Seu principal produto, o polvilho azedo, conquistou a confiança do consumidor, abastecendo padarias e fábricas de biscoitos e pão de queijo.
A fase de maior produção ocorreu nos anos 80, quando as terras ourenses se tornaram insuficientes para o desenvolvimento das lavouras de mandioca. Os agricultores alargaram as “fronteiras agrícolas”, arrendando terras dos municípios vizinhos. Buscaram maior assistência da EMATER e introduziram variedades mais produtivas de mandioca.
A expansão da frota de caminhões e utilitários e a existência de várias oficinas mecânicas, comprovam a importância da indústria polvilheira no município.
Em 1998, as fábricas de polvilho empregavam cerca de 530 trabalhadores diretos e 200 indiretos.
O mais interessante em toda a história da industria polvilheira é que a tecnologia empregada foi inteiramente desenvolvida pelos próprios produtores. O invento de um era generosamente colocado à disposição de todos. Tal desprendimento permitiu uma expansão contínua da indústria, até que essa mesma tecnologia fosse espalhada para localidades as mais variadas, gerando fortes concorrentes.
2. Fabricação primitiva
No final do século 19, o polvilho era produzido em casa num processo manual. A primeira “máquina” foi instalada em 1918, no Bairro da Fazendinha, por José Alves Corrêa Sobrinho (Zeca Porfírio). A máquina consistia num ralo, movido à manivela, acoplado a uma mesa de madeira. A mandioca era descascada à mão e encaminhada ao ralo. Uma pessoa girava a manivela, enquanto outra comprimia as raízes no ralo. A massa obtida caía sobre um pano colocado na boca de um jacá e depois era lavada à mão. O líquido branco ia para um cocho de paineira onde o amido se assentava no fundo, por um processo de decantação. Depois de oito a quinze dias de fermentação, o amido se transformava num bloco compacto que era quebrado e espalhado em jiraus cobertos por toalhas de pano. Após secar ao sol, o polvilho estava pronto para a confecção de biscoitos e sequilhos.
A produção anual foi de dez sacos de quarenta quilos. Era pouco mas representava a conquista de novos caminhos. Produção e comércio se expandiram até que, na segunda metade do século 20, a indústria polvilheira se tornou a maior fonte de renda do município.
3. Pioneiros da indústria polvilheira
- Zeca Porfírio – Bairro da Fazendinha – ano 1918;
- Barnabé da Costa Rezende – Bairro da Fazendinha – início dos anos 20;
- Benedito Barbosa Pinto – Fazenda Pinhal – ano 1925;
- José Otávio Rosa (Zeca Rosa) – próximo à rua Santa Bárbara – ano 1931. “Dedé Rosa” continuou os trabalhos do pai, inovando a produção. Essa fábrica foi transferida para José Joaquim Afonso produtor do polvilho Santa Helena.
- João Ribeiro de Carvalho – Instalou, em 1939, no Bairro da Fazendinha, uma máquina movida à roda d’água (hoje, pertencente a José Ribeiro de Carvalho). Em 1942, montou, no Bairro Santa Efigênia, outra máquina que, em 1953, receberia um motor elétrico e mais tarde se transformaria na “Indústria de Polvilho Caribe” de Benedito Ribeiro de Carvalho.
- Francisco Eugênio da Fonseca – Bairro Ouros Velho – ano 1942;
- Maximiliano Teodoro de Freitas (Nego Costa) – entrada do bairro do Quilombo – ano 1946. Essa fábrica foi vendida para Cassiano Rosa (Mano).
- João Batista Rosa – proximidades da rua Santa Bárbara – ano 1947
- João Batista Ribeiro de Carvalho (Joãozinho Virgínio) – Em 1948, instalou, no Bairro Santa Efigência, a Fábrica de “Polvilho Tup Guar”, que atualmente, pertence a seus filhos Benedito Euclides de Carvalho e João Ribeiro de Carvalho Neto e lidera a produção local de polvilho.
4. Inovadores e inovações
- José Alves Corrêa Sobrinho (Zeca Porfírio) – 1918 – primeiro a usar um ralo movido à manivela, por ele desenvolvido.
- Barnabé da Costa Rezende – carpinteiro, na década de 20 adaptou uma roda d’água à máquina de polvilho, facilitando o trabalho e dando início a uma importante fase na economia do município.
- Benedito Barbosa Pinto – em 1925, montou uma fábrica de polvilho na Fazenda Pinhal. O volume de água não foi suficiente para girar a roda. O proprietário adaptou um motor elétrico – importante avanço tecnológico. Essa fábrica recebeu um aparelho telefônico cedido pela Companhia Sul Mineira de Eletricidade.
- José Porfírio Corrêa – proprietário de uma oficina com torno mecânico, inventou a gradinha ou lavadeira mecânica (de madeira) para separar o polvilho da massa.
- Luís Ribeiro de Castro Carvalho – Inventou o picador de polvilho molhado, provido de rodas, que se aproxima dos cochos, tornando o trabalho mais rápido e higiênico. Inventou também o picador elétrico de rama de mandioca.
- Benedito Ribeiro de Carvalho – Em 1984, publicou um folheto sobre técnicas de plantio de mandioca, divulgando pesquisa de funcionários de sua empresa, sob orientação de funcionários da EMATER. Dois anos depois, a produção de mandioca registrou considerável aumento.
5. Processo atual de fabricação
Os fabricantes de polvilho empregam máquinas mais modernas, garantindo uma produção mais eficiente:
- As máquinas processam a mandioca automaticamente: lavam, escovam, descascam e encaminham para o ralo e depois para a centrífuga onde a massa é separada do polvilho;
- A decantação do amido é feita de forma mais prática e higiênica, numa pista em ziguezague de aproximadamente 250 metros de comprimento. (O polvilho extraído do início da “pista” é de melhor qualidade);
- O tempo de fermentação foi reduzido;
- As embalagens de papel resistente substituem as de tecido, evitando o vazamento do produto e sua contaminação.
6. A massa de mandioca
Subproduto do polvilho, usada na fabricação de ração ou silo que alimenta o gado. Constitui excelente adubo natural.
7. Caráter artesanal
A fabricação do polvilho mantém seu caráter artesanal, pois, é impossível produzir polvilho azedo, sem fermentação e secagem natural ao sol. É esse trabalho lento e artesanal que caracteriza o polvilho ourense, bem diferente da fécula ou do polvilho doce, cuja produção não exige exposição ao sol.
8. Problemas enfrentados pela indústria polvilheira
Nos anos 90, houve desaceleração no ritmo da indústria polvilheira. Algumas causas são aqui identificadas:
- As lavouras de mandioca se desenvolviam em rotatividade com o capim gordura utilizado para pastagem. A “dobradinha” proporcionava descanso e fertilização natural ao solo. Em 1979, uma forte geada queimou as pastagens. Os agricultores introduziram o capim braquiara, de origem africana e desenvolvimento rápido. A nova gramínea – de sementes e raízes abundantes que dificultam sua remoção – trouxe danos às lavouras: redução do espaço destinado ao plantio de mandioca, aumento da mão de obra, elevação do custo da matéria prima (mandioca), perda da produtividade das lavouras, queda da produção do polvilho.
- O relevo acidentado impede a mecanização das lavouras, dificultando a concorrência com produtores de outras regiões;
- Ausência de Cooperativismo entre os produtores de polvilho e mandioca: o Cooperativismo poderia fortalecer as agroindustrias e contribuir para a permanência do agricultor e do lavrador no campo.
- A dificuldade de adaptação dos produtores de polvilho aos recentes planos econômicos, aliada à política de juros altos, provocou desemprego e fechamento de várias fábricas.
9. Fábricas em atividade (1999) – ordem alfabética:
- Caribé Ind. e Com. Ltda. – Benedito Ribeiro de Carvalho;
- Carvalho Ind. e Com. de Prod. Alimentícios – José Ribeiro de Carvalho;
- Cruzeiro do Sul – Antônio Pereira de Carvalho;
- Estrela d’Alva Ind. e Com. Ltda. – Marcos Venícios Fonseca;
- Gaivota – Isac Alves Corrêa;
- Horizonte – Emerson Augusto de Carvalho Oliveira;
- Libra – Targino Bernardes de Faria;
- Mantiqueira – João Batista Neves;
- Marília – João Batista Neves;
- Maxmil – Petrônio Maximiliano de Freitas;
- Mercúrio – Manoel Ribeiro de Castro Carvalho;
- Ind. e Com. de Polvilho Orivaldo Ltda. – José Pereira de Carvalho;
- Ouro Branco – Fazenda Pinhal;
- Ourense – Romeu Rogério;
- Real Minas – José Donizetti Palma, Benedito M. Palma e Benedito F. Almeida;
- Sagitário – Paulo Pereira de Carvalho;
- São João – Ivair Ramos de Carvalho;
- Torrão dos Ouros – Sebastião Zacarias Pereira, Benedito Pereira da Costa, José Agnaldo Lemes e José Mauro Costa;
- Tup Guar Ind. e Com. Ltda. – João Ribeiro de Carvalho Neto e Benedito Euclides de Carvalho;
- Universo – Laércio da Silva Viana.

Conceição dos Ouros
A terra do polvilho. Nossa cidade é a maior produtora de polvilho do mundo.